O Videota

15 segundos de terror

Ricardo Calil

É uma história clássica de Hollywood. Em 1942, prestes a rodar “O Sangue da Pantera” com pouquíssimo dinheiro, o produtor Val Lewton viu no estúdio um grupo de extras vestidos toscamente de felinos, parecendo gatos de animação de festa, e dispensou-os para evitar o ridículo. Mas o que pôr no lugar? A resposta que ele encontrou não poderia ser mais simples (e mais brilhante): nada. Afinal, o que as pessoas mais temem não pode ser visto: o desconhecido, a escuridão, os espíritos. Se não podemos ter panteras de verdade, Lewton pensou, melhor trabalhar com sombras e ruídos – e deixar a imaginação do espectador fazer o resto. Nascia, ali, o terror de sugestão – e uma obra-prima do cinema. Décadas mais tarde, com o avanço dos efeitos especiais, a imaginação perdeu espaço para a tecnologia – vide o tigre virtual no barco de ''As Aventuras de Pi'' (2012).

O vídeo acima subverte o conceito de terror de Lewton. Em 10 segundos, você precisa imaginar: do que corre esse homem, o que o assusta? E então, nos 5 segundos finais, vem a resposta, justamente aquilo que faltou a Lewton: um felino de verdade – dos grandes, acrobáticos e assustadores. Às vezes, a imaginação e a tecnologia ficam pequenas diante da realidade. Vindo de um país árabe não-identificado, o vídeo é um daqueles pequenos milagres audiovisuais em que a câmera está no lugar certo, na hora certa. Como se fosse um longa de terror amplificado pela câmera lenta, condensado a uma essência de 15 segundos, com um final em aberto.