O Videota

Dez anos de selfies em movimento

Ricardo Calil

Este blog estreia perto de uma efeméride significativa: há dez anos, mais exatamente em 23 de abril de 2005, foi ao ar o primeiro vídeo publicado no YouTube: ''Me at the Zoo''. Com apenas 18 segundos, foi um teste feito por um dos criadores do site, Jawed Karim. “É isso aí. Estamos aqui com os elefantes. Eles têm grandes, grandes trombas. E é isso que eu tenho a dizer”, diz o tímido Jawed.

''Me at the Zoo'' é o ''A Chegada de um Trem na Estação'' dos vídeos virais. ''A Chegada'', por sua vez, é considerado o primeiro filme de cinema, realizado pelos irmãos Lumière em 1895. A comparação é exagerada? Muito. O vídeo de Jawed jamais terá a estatura histórica do filme dos Lumière por um fato básico: ele não estava inaugurando uma arte, e sim uma plataforma. Vídeos na Internet não eram novidade em 2005; o trunfo do YouTube foi agregá-los de forma simples. Por outro lado, existiam filmes antes de ''A Chegada de um Trem na Estação''; Thomas Edison já os exibia em cabines individuais, os cinetoscópios. A sacada dos Lumière foi transformar o cinema em experiência coletiva. Já os vídeos virais unem Edison e Lumière: são uma experiência individual (vistos a cada vez por uma pessoa em seus cinetoscópios ambulantes) e coletiva (podendo ser compartilhados com milhões de outras).

Ainda que banal, ''Me at the Zoo'' é revelador. A estreia do YouTube é um selfie em movimento, um monólogo trivial (''eles têm grandes trombas'') e ainda um vídeo de bicho – uma premonição do que viria a seguir nos dez anos seguintes. No lugar do fascínio pela máquina (o trem dos Lumière) do século 19, o amor a si mesmo no século 21. Em vez da terceira pessoa, a primeira.

Se Louis e Auguste Lumière tivessem feito o primeiro vídeo viral, possivelmente um deles se colocaria diante da câmera dizendo: ''Estamos aqui com um trem. Ele é longo, realmente longo''.