“Vai, Corinthians!” e outras alucinações auditivas
Ricardo Calil
Primeiro, foi ''Blow Up – Depois Daquele Beijo'' (1966), de Michelangelo Antonioni. No filme, um fotógrafo de moda clica fortuitamente um casal em um parque e, ao ampliar as fotos, descobre o que acredita ser um cadáver e uma mão apontando uma arma para o corpo em meio aos arbustos. Mais tarde, ele passará a desconfiar que o suposto crime talvez seja apenas fruto da sua imaginação.
Depois veio ''Blow Out'' (1981), uma homenagem de Brian De Palma a ''Blow Up'', que no Brasil ganhou o título de ''Um Tiro na Noite''. Nele, um operador de som (John Travolta, em tempos melhores de sua carreira) grava, sem querer, o som de um acidente de automóvel. Porém, ao ouvir a gravação, ele suspeita ter registrado também o disparo de um revólver em um assassinato.
Por fim, apareceu o grito do ''Vai Corinthians!'' no meio do discurso de Barack Obama, conforme registrado no já famoso vídeo acima. Depois, para a desilusão da nação corintiana, revelou-se que gritaram, na verdade, ''Bye, Felicia!''.
O que ''Blow Up'', ''Blow Out'' e ''Vai, Corinthians!'' têm em comum? Os três são uma prova de que Nietzsche estava certo quando disse que não existem fatos, apenas interpretações. Assim como a beleza, a realidade está nos olhos de quem vê, nos ouvidos de quem ouve. Se fatos já são fugidios para a maioria da população, imagine, então, para os corintianos.
O mais surpreendente na repercussão desse vídeo é ninguém perceber que, pouco antes do grito do ''Bye, Felicia!'', é possível ouvir claramente alguém sussurrar: ''É Tricolor!''.