O Videota

Woody e Buzz Lightyear caem no funk

Ricardo Calil

Apesar de ser um meio novo (ou, antes, uma plataforma nova), o vídeo viral já tem certas tradições no Brasil. Uma delas é registrar uma pessoa com fantasia de personagem de quadrinhos ou desenho animado dançando uma música que nada tem a ver com o universo infanto-juvenil.

O clássico que cristaliza essa tendência é, claro, ''Magaly dançando'', em que a menininha comilona criada por Maurício de Souza requebra ao som de uma versão poperô de ''Californa Dreamin''' no Largo da Carioca, Rio de Janeiro. O sucesso à época do lançamento, em 2010, foi tamanho que extrapolou a internet e virou tema de reportagem do ''Fantástico''. O programa da Globo deu um furo mundial, tirou a máscara da Magali e revelou a identidade secreta da dançarina que a incorporava.

Outro fenômeno essencial da tendência é o Trenzinho Carreta Furacão, que surpreende pela quantidade de personagens revisitados: há um Popeye, um Capitão América, um Mickey, um Fofão e um palhaço meio genérico. O grupo de Ribeirão Preto percorre cidades do interior em seu trenzinho fazendo acrobacias, esquetes de humor e números de dança. Os vídeos da Furacão são inúmeros e, em geral, espetaculares. Mas fiquemos com um dos primeiros registros do grupo, de 2010, em que seus integrantes sensualizam ao som de ''Vem Dançar o Mestiço'', pagodão de Leandro Lehart.

Já o vídeo acima leva a tendência a um novo patamar. Em uma festinha infantil no Rio de Janeiro, o caubói Woody e o astronauta Buzz Lightyear, venerados personagens da franquia ''Toy Story'', caem num funk rasgado e de difícil identificação. Mas uma rápida pesquisa no Google nos indica que a música em questão é ''Senta em Mim Xerecão Hey'', de MC Magrinho (a empresa de animação infantil tomou a sábia decisão de usar uma versão sem a letra).

A combinação de Toy Story + funk do Xerecão + festinha infantil dá um novo sentido às ideias do ''Manifesto Antropófago'' escrito por Oswald Andrade em 1928, aquele que propunha deglutir o legado cultural europeu (agora americano) e digeri-lo sob a forma de uma arte tipicamente brasileira. Tupi or not tupi, that is the question.