Maconha transforma usuários em vilões de HQ
Ricardo Calil
O título da notícia é bombástica: ''Maconha sintética que deixa usuários com força sobre-humana se espalha pelos EUA''. O primeiro parágrafo contribuiu para o espanto: ''Uma nova maconha sintética (conhecida como K2) confere a seus usuários uma força sobre-humana e grande resistência à dor, tornando a captura deles pela polícia quase impossível, como disse, nesta terça-feira, em um comunicado, o comissário Bill Bratton, do Departamento de Polícia de Nova York''.
A julgar por essas maltraçadas linhas, pode-se imaginar que as pessoas que usam a maconha sintética desenvolvem capacidades ''sobre-humanas'' como levitar, derrubar prédios ou viajar no tempo. Como Ra's Al Ghul, o inimigo do Batman que se cura de qualquer doença ao se banhar nos venenos do Poço de Lázaro. Ou o Dr. Octopus, que funde seu corpo a quatro tentáculos mecânicos ao sofrer um acidente com materiais radioativos. Ou ainda o Caveira Vermelha, que desenvolveu o poder da telepatia depois de ser atingido por gases tóxicos.
Para nossa decepção, a notícia sobre a maconha sintética é acompanhada por dois vídeos divulgados pela polícia de Nova York que mostram superpoderes bem mais prosaicos. Um dos usuários quebra uma velha cerca de madeira com um soco, para em seguida ser dominado por dois policiais gordinhos com o que parece ser spray de pimenta. O outro grita diante de um carro. Ambos ficam pelados em público, exibindo o superpoder da desinibição. Como bem disse o comissário, ''tentar lutar com uma pessoa nua é ainda mais difícil''. Quase impossível mesmo!
Das muitas formas encontradas pela polícia para criminalizar os usuários de drogas, tentar transformá-los em vilões de histórias em quadrinhos deve ser, de longe, a mais original. Mas o perigo é ter o efeito contrário. Afinal, que criança não quer ter um poder sobre-humano?