O Videota

Batman x Darth Vader e outros clássicos nerd
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Ricardo Calil

É o sonho dourado de qualquer nerd: colocar dois super-heróis para brigar e ver quem ganha. Pois o americano Aaron Schoenke transformou o sonho em realidade.

No mundo nerd, Aaron é conhecido há tempos por dirigir ''fan filmes'' protagonizados por Batman, como ''Batman Beyond: Year One'' (2001), em que ele também faz o homem-morcego, e ''Seeds of Arkham'' (2011).

Realizados pela produtora A Bat in the Sun – criada por Aaron e seu pai Sean -, os filmes impressionam pela qualidade de produção obtida com baixíssimo orçamento.

A mesma característica pode ser observada na websérie Super Power Beat Down, criada por Aaron para concretizar duelos até então imaginários entre super-heróis dos quadrinhos e do cinema.

O formato é simples. Primeiro, eles anunciam o duelo no site da série, e as pessoas votam em quem deve ser o vencedor. Aí eles produzem o vídeo que começa com nerds apontando seu favorito e depois mostra o duelo ficcional em si – com um final que segue o resultado da enquete.

Acima, você vê um dos vídeos mais populares: o duelo entre Batman e Darth Vader. Mas este não é o vídeo com o duelo original, mas sim um posterior com final alternativo – em que ganha o favorito do Videota.

Já houve também embates entre Green Ranger e Ryu, Capitão América e Master Chief, Darth Vader e Gandalf, Superman e Thor. O próximo será entre o Homem Aranha e Darth Maul. A revista ''Time'' já deu o recado: ''Hollywood deveria aprender com A Bat in the Sun''.


Conheça a TV mais entediante do mundo
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Ricardo Calil

A comunicação no mundo moderno precisa ser rápida, não é? Por isso, o sucesso dos GIFs. Dos tweets de 140 caracteres. Dos vídeos curtíssimos do Vine. Das fotos que desaparecem em segundos no Snapchat. Meio antiquíssimo, com mais de meio século de idade, a TV tenta correr atrás do prejuízo, criando programas cada vez mais velozes e mais furiosos.

Mas há uma inacreditável exceção: o canal público norueguês NRK – uma emissora onde a lerdeza é um trunfo, onde o tédio é motivo de orgulho. Ali eles criaram o conceito de ''slow TV'' – que, como no ''slow food'', defende que as melhores experiências, sejam televisivas ou gastronômicas, exigem tempo. Muito tempo.

Na palestra do TED do vídeo acima, o produtor Thomas Hellum explica o conceito de ''slow TV'' e conta um pouco de sua história na NRK. Tudo começou em 2009, ano do centenário da ferrovia Bergen. Para comemorar, os produtores tiveram a ideia de mostrar o trajeto completo, sete horas de paisagens sem cortes. Estranhamente, foi um sucesso: 1,2 milhão de espectadores (de um total de 5 milhões no país).

O passo seguinte foi mais ousado: a cobertura ao vivo, ininterrupta, de um cruzeiro de 3 mil quilômetros pelo litoral norueguês, que durou cinco dias e meio. O sucesso foi estrondoso: 3,2 milhões de espectadores, muito barulho nas redes sociais e milhares de pessoas que apareciam na costa para acenar ao navio e aparecer ao vivo na TV (incluindo a rainha da Noruega). O programa ficou marcado pela imagem de uma vaca caminhando pela costa ao longo de dez minutos.

Desde então, a NRK se especializou em programas de ''slow TV'' e já transmitiu uma pescaria de 18 horas, pessoas cortando lenha para depois queimá-la por oito horas em uma lareira, outras pessoas tosquiando ovelhas para depois fazer blusas de lã ao longo de uma noite – sempre com boas audiências. ''Quando as pessoas dizem 'Ah, você não pode pôr isso na TV', nós achamos que é uma boa ideia para a TV lenta'', diz Hellum.

Na palestra, ele tenta explicar o estranho sucesso da NRK: ''Os espectadores têm a impressão de estar lá de verdade, estar no trem de verdade, no barco, e tricotando junto com outros, e a razão pela qual acho que estão fazendo isso é porque nós não cortamos o material. Assim, você deixa os espectadores criarem as histórias por si''.


“Tem vida mais barata, mas não presta, não”
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Ricardo Calil

''Não existe nobreza na miséria. Eu fui um homem pobre e eu fui um homem rico. E escolho 'rico' toda porra de vez''. Esta é uma das muitas frases provocativas de Jordan Belfort (Leonardo Di Caprio) no brilhante e subestimado ''O Lobo de Wall Street'', de Martin Scorsese. Entre os muitos símbolos de status amealhados pelo corretor de ações (o filme baseia-se na vida real), está um iate de 50 metros, estendido na parte traseira para caber um helicóptero – que vira em um tempestade a caminho de Mônaco.

Não dá para não lembrar de Belfort – e de sua apologia à riqueza – ao ver o vídeo do cartorário goiano José Augusto Alcântara em uma iate de 12 metros em Saint Tropez (França). Em uma hidromassagem, ele diz uma frase que deixaria Belfort orgulhoso: ''Marquinho, tem vida mais barata, mas não presta, não!''

goianoSemelhantes na defesa da ostentação, o filme de Scorsese e o viral com Alcântara fazem pensar nas diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil. Belfort era um capitalista selvagem, um ''self made man'' que fez fortuna instantânea tapeando os investidores. Já Alcântara, a julgar pela profissão, é um patrimonialista clássico, um capitão hereditário que herdou uma polpuda fonte de renda dos antepassados.

Belfort passou três anos na cadeira, pena reduzida por dedar seus colegas. Alcântara provavelmente terá suas atividades regulamentadas pela PEC dos Cartórios que está sendo analisada pela Câmara e que oficializa, sem concurso, quem já mantém um. Nosso Jordan Belfort pode ter um iate menor, mas é ainda mais esperto.


Taiwanês que rasgou quadro é Mr. Bean real
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Ricardo Calil

É uma cena clássica em várias comédias pastelão: um personagem atrapalhado encontra uma obra de arte valiosíssima e a destrói acidentalmente do jeito mais ridículo possível.

O primeiro exemplo que me vem à cabeça é o de Mr. Bean espirrando no quadro ''Arranjo em Cinza e Preto número 1'', de James McNeill Whistler – mais conhecido como ''A Mãe de Whistler'' e já chamado de ''a Monalisa americana''. No filme ''Bean'' (1997), o comediante ainda passa removedor e desenha uma caricatura a canetinha na pintura. A comédia nasce da tensão entre a descoordenação (mental, motora) do personagem e o valor altíssimo da obra.

É curioso notar que o humor se perde completamente quando uma cena parecida acontece na vida real – como no caso do garoto taiwanês de 12 anos que tropeçou em um museu de Taipei e rasgou a tela de ''Flores'', pintura do italiano Paolo Porpora com mais de 350 anos de idade e avaliada em US$ 1,5 milhão (R$ 5,3 milhões).

A cena real também é ridícula. Como qualquer outro ser humano, o garoto olha para os lados torcendo para que ninguém tenha visto o tropeço. Quem nunca? Mas não há comédia longe da ficção. A sensação é de desconsolo, de uma enorme tristeza pelo azar do garoto.

A primeira boa notícia é que o seguro cobriu o restauro, e ele não foi feito pela espanhola Cecília Gimenez, ''a pior restauradora do mundo''. A segunda é que o moleque pode ser o mais famoso destruidor de arte do momento, mas ele está longe de estar sozinho: existe uma longa lista de pessoas atrapalhadas arruinando obras-primas ao longo da história. Bem-vindo ao clube.


Mulher “finaliza” marido para evitar briga
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Ricardo Calil

O cinema ganhou uma série de heroínas lutadoras nos últimos anos. Em ''Kill Bill Vol. 1'', Uma Thurman enfrenta a gangue dos 88 Loucos. Mata, decepa e aleija um a um com sua espada. Em ''O Tigre e o Dragão'', Zhang Ziyi e Michelle Yeoh escalam muros, equilibram-se em bambus, flutuam pelos ares. Em ''As Panteras Detonando'', Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu distribuem sopapos nos rapazes sem perder o humor nem borrar a maquiagem.

Perto delas, a façanha de Zélia Pamplona pode parecer pequena e prosaica. Mas essa heroína não é uma ficção. A garota ''finalizou'' seu marido para que ele não se envolvesse em uma briga na porta de uma boate no bairro do Reduto, em Belém, na última manhã de sábado. Zélia explicou, mais tarde, que o marido tentou defendê-la de uma provocação e, para evitar que ele saísse no braço, preferiu imobilizá-lo com um golpe de jiu-jitsu – até que ele desse os três tapinhas regulamentares pedindo arrego. Um desempenho para Ronda Rousey nenhuma botar defeito.


Pimenta no útero das outras é refresco
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Ricardo Calil

Hoje saiu a nova pesquisa do IBGE sobre partos no Brasil, com a informação de que o país continua um campeão de cesáreas, com 54,7% de nascimentos por meio de cirurgia (desse total, 53,5% foram feitos com hora marcada).

Para o Videota, é uma notícia triste, já que a Organização Mundial de Saúde recomenda que 80% dos partos sejam normais. Mas uma coisa que ele aprendeu com sua mulher foi não dar muito palpite sobre um tema que ele não domina. Afinal, nenhum homem jamais sentiu as dores do parto.

try guysMas alguns bem que tentaram. Em uma série sobre maternidade, os quatro rapazes do The Try Guys – grupo reunido pelo BuzzFeed para fazer vídeos passando por experiências inéditas – toparam enfrentar as dores do parto em uma simulação.

O resultado é o vídeo acima, uma mistura de filme de terror com comédia – que lembra a famosa cena do clássico ''O Virgem de 40 Anos'' em que Steve Carrell encara uma depilação no peito com cera quente. Depois de ver o vídeo do The Try Guys, o Videota respeita ainda mais as mães que encararam um parto normal. Como diz o poeta, pimenta no útero das outras é refresco.


Playboy do Tratamento, barões e novinhas
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Ricardo Calil

A grande crônica de costumes deste início de século 21 não será feita pela literatura (apesar do brilhantismo de nomes como Antônio Prata e Gregório Duvivier). Não será feita pela TV, nem pelo cinema e muito menos pela TV. Ela será feita na primeira pessoa, nos vídeos virais. Se alguém, por exemplo, quiser refletir sobre a nossa obsessão com a forma física, não haverá uma crônica melhor do que os vídeos do fisiculturista André Mahalo, também conhecido como ''Playboy do Tratamento''.

Nenhum roteirista seria capaz de inventar as expressões criadas por Mahalo: ''vamos botar os cavalos pra lombrar'', ''as novinhas viajam no Playboy aqui'', ''olha o animal que eu fiquei, Barão'', ''esse é o tratamento pra esbagaçar'', ''é tudo nosso e nada dele'', ''eu vim para aparecer e quem não gostou que se manifeste''. Nenhum ator seria capaz de interpretar esse personagem com a graça e a fúria peculiares de seu inventor.

O mais perto que o cinema chegou disso foi com o psicótico personagem Travis Bickle interpretado por Robert De Niro em ''Taxi Driver'' (1975). Mas o filme de Martin Scorsese só tinha uma frase inesquecível: ''Are you talkin' to me?'' Os vídeos do Playboy do Tratamento têm quatro ou cinco cada. E, como todo viral marcante, eles já foram homenageados em uma série de paródias.


Lana Del Rey corre atrás da pamonha
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Ricardo Calil

Há pouco mais de 100 anos o artista francês Marcel Duchamp criou o conceito do ''ready-made''. Seu procedimento básico era pegar um objeto industrializado – uma roda de bicicleta ou um urinol, por exemplo – e apresentá-lo como uma obra de arte. E seu objetivo era libertar radicalmente o fazer artístico de qualquer pompa, de qualquer academicismo, de qualquer sentido de superioridade. ''Será arte tudo que eu disser que é arte'', ele provocava.

Sua obra mais famosa com essa estratégia é um ''ready-made'' retocado. Duchamp comprou um postal da ''Monalisa'' de Leonardo Da Vinci e acrescentou-lhe a lápis um bigode e um cavanhaque. Deu à obra o nome de ''L.H.O.O.Q.'', que lido em francês soa parecido com ''Elle a chaud a cul'' (ou, traduzido eufemisticamente para o português, ''Ela tem fogo no rabo'').

Cem anos depois, o ''ready-made'' retocado tornou-se um dos procedimentos essenciais dos virais. No caso, isso significa pegar um vídeo e mudar um detalhe para obter um efeito cômico – e, de certa forma, denunciar a pretensão do original. Essa estratégia fica absolutamente clara nas muitas (& rápidas & brilhantes) paródias brasileiras feitas ao clipe de ''High by the Beach'', nova música de Lana Del Rey.

No original, a cantora aparece correndo de uma casa até a praia para pegar uma arma e disparar contra um helicóptero com um paparazzo que a persegue. Na paródia acima, na hora da corridinha, a música é substituída por um clássico anúncio de carro de pamonha (o bigode e cavanhaque de Duchamp). Na abaixo, igualmente sensacional, Lana recebe a visita do Gugu. Em outras, ela corre até a Laurinha do Camarão, vai atrás de um picolé, não quer perder o plantão da Globo, chega atrasada para o Enem etc. É curioso pensar que as paródias à corridinha de Lana nos fazem lembrar uma obra chamada ''Ela tem fogo no rabo''.

Será arte tudo que eu disser que é arte. Então, se ainda não ficou claro, o Videota diz: essas paródias são arte.


Nos virais, tubarão é o novo gato
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Ricardo Calil

O tubarão parece ter substituído o gato como animal de estimação preferido no universo dos virais. Todo dia surge um novo vídeo dedicado ao peixão mais assustador dos oceanos. A culpa, provavelmente, é de Mick Fanning, o surfista australiano que foi ''abordado'' por um tubarão durante a final da etapa do campeonato mundial de surf em Jeffrey's Bay, África do Sul. E que, alguns dias depois, encontrou outro tubarão, em uma ocasião diferente.

Desde então, já viraram estrelas dos virais o Deep Blue, o maior tubarão branco já filmado, do vídeo acima divulgado dois dias atrás; o tubarão-tigre gigante capturado morto na costa da Austrália; o tubarão que é fisgado por um pescador e, de vingança, vira seu caiaque, o tubarão-martelo salvo por banhistas da Flórida etc etc.

Com o devido respeito pelo pânico que Fanning e outras pessoas envolvidas devem ter sentido, todos esses vídeos têm algo em comum: a antiespetacularidade. Ou seja, eles não metem medo. Por que sentimos pavor ao ver ''Tubarão'', uma ficção de Steven Spielberg, e não sentimos ao ver esses vídeos, da coisa real, pra valer? Depois de muito refletir a respeito, o Videota achou uma resposta bastante simples: a música! A clássica trilha composta por John Williams faz toda a diferença para criar o suspense. Com ela, os virais teriam o dobro de impacto. Sem ela, o filme do Spielberg teria metade.


A incrível hipnotizadora de animais
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Ricardo Calil

Na história do cinema, existe um – e, se não me falha a memória, apenas um – grande filme sobre hipnose: ''O Gabinete do Dr. Caligari'' (1920), clássico do expressionismo alemão dirigido por Robert Wiene. Ou seja, o cinema nos deve um outro filme bom sobre o assunto há 95 anos. Nesse meio tempo, houve um punhado de filmes razoáveis, jamais memoráveis, sobre esse tema fascinante: ''Em Algum Lugar do Passado'', ''As Três Máscaras de Eva'', ''O Amor é Cego'', ''O Escorpião de Jade''. O mais recente é o sofrível ''Em Transe'', ponto baixo da carreira de Danny Boyle.

menina chinesaPois bem, essa lacuna audiovisual acaba de ser preenchida pela televisão chinesa, quem diria… O mérito ''cinematográfico'' não é do programa, que parece uma versão piorada do ''Domingão do Faustão'', mas da hipnotizadora. Em quatro minutos, a garotinha chinesa hipnotiza um cachorro, um camaleão, um sapo, uma galinha e um coelho – um feito para Caligari nenhum botar defeito, ainda mais sem a ajuda da ficção. O Videota quase entrou em transe vendo o vídeo.

No próximo dia 23, a TV brasileira entrará no tema com a estréia da série ''O Hipnotizador'' na HBO, com direção de Alex Gabassi e José Eduardo Belmonte. O teaser promete. Mas eles vão ter que dar duro para superar a chinesinha.