Barack Obama: o primeiro presidente viral
Ricardo Calil
A cada dia, surge na timeline do Videota um novo viral protagonizado por Barack Obama. Quase sempre um vídeo que reforça a imagem do presidente americano como um sujeito bacana, carismático, à vontade na própria pele. Seja um registro de Obama dançando uma música tradicional no Quênia, ou outro em que ele dá um pito elegante em uma mulher que interrompeu seu discurso (o famoso vídeo do ''Vai, Corinthians!''), ou ainda outro em que canta ''Amazing Grace'' no funeral das vítimas do tiroteio na igreja de Charleston.
Obama é o primeiro presidente a entender a força do viral (com a ajuda, claro, de seu time de assessores de imagem). Prova disso é o divertido vídeo do BuzzFeed que ele protagonizou para defender seu projeto de saúde pública, em que finge ser flagrado fazendo caretas diante do espelho e outras coisas que não mostraria às câmeras. Ou a entrevista que ele deu ao comediante Zach Galifianakis para o ''Between Two Ferns'', programa exibido na internet.
O presidente também está lá em virais produzidos por anônimos, como este aí em cima no qual canta ''Uptown Funk'' a partir da montagem de trechos de seus discursos. Por falar em ''Uptown Funk'', a primeira-dama Michelle também bombou dançando a música no programa da Ellen DeGeneres – o que mostra que Barack não é o único da família que sacou o viral.
John Kennedy entendeu o poder da TV – e, como se sabe, sua vitória sobre Richard Nixon teve muito a ver com a imagem projetada nos debates televisivos. Bill Clinton entendeu o poder da cultura pop para os jovens eleitores – e sua participação no programa de Arsenio Hall tocando sax ajudou na virada da sua então pequena campanha presidencial. E Obama entender o poder da internet: se ele criar uma imagem marcante por dia, as pessoas irão se encarregar de viralizá-la – e ele não vai precisar tanto da TV.
Aí o Videota se pergunta: e a Dilma? A presidente brasileira também viraliza com frequência, mas em geral de forma negativa. Um caso recente famoso é o do discurso da mandioca, remixado em ritmo de reggae no vídeo acima. Mas toda semana aparece um novo. E Dilma raramente consegue oferecer o contraponto positivo – com uma ou outra exceção, como a invertida que dá em uma repórter que lhe pergunta sobre a ópera ''Otello''. O time de comunicação de Dilma talvez ainda não tenha compreendido a importância dos virais para criar uma outra imagem da presidente – e contradizer a imagem hegemônica. Cadê, por exemplo, o vídeo da Dilma andando de bicicleta? Dos virais de Obama, surge um estadista cool. Dos virais de Dilma, uma gerente atrapalhada.
Não sejamos ingênuos: isso tem a ver com uma máquina bem azeitada de ódio ideológico, seja ele institucional ou individual. Mas não sejamos ingênuos, parte 2: a Dilma se atrapalha – e o João Santana não ajuda.