Lana Del Rey corre atrás da pamonha
Ricardo Calil
Há pouco mais de 100 anos o artista francês Marcel Duchamp criou o conceito do ''ready-made''. Seu procedimento básico era pegar um objeto industrializado – uma roda de bicicleta ou um urinol, por exemplo – e apresentá-lo como uma obra de arte. E seu objetivo era libertar radicalmente o fazer artístico de qualquer pompa, de qualquer academicismo, de qualquer sentido de superioridade. ''Será arte tudo que eu disser que é arte'', ele provocava.
Sua obra mais famosa com essa estratégia é um ''ready-made'' retocado. Duchamp comprou um postal da ''Monalisa'' de Leonardo Da Vinci e acrescentou-lhe a lápis um bigode e um cavanhaque. Deu à obra o nome de ''L.H.O.O.Q.'', que lido em francês soa parecido com ''Elle a chaud a cul'' (ou, traduzido eufemisticamente para o português, ''Ela tem fogo no rabo'').
Cem anos depois, o ''ready-made'' retocado tornou-se um dos procedimentos essenciais dos virais. No caso, isso significa pegar um vídeo e mudar um detalhe para obter um efeito cômico – e, de certa forma, denunciar a pretensão do original. Essa estratégia fica absolutamente clara nas muitas (& rápidas & brilhantes) paródias brasileiras feitas ao clipe de ''High by the Beach'', nova música de Lana Del Rey.
No original, a cantora aparece correndo de uma casa até a praia para pegar uma arma e disparar contra um helicóptero com um paparazzo que a persegue. Na paródia acima, na hora da corridinha, a música é substituída por um clássico anúncio de carro de pamonha (o bigode e cavanhaque de Duchamp). Na abaixo, igualmente sensacional, Lana recebe a visita do Gugu. Em outras, ela corre até a Laurinha do Camarão, vai atrás de um picolé, não quer perder o plantão da Globo, chega atrasada para o Enem etc. É curioso pensar que as paródias à corridinha de Lana nos fazem lembrar uma obra chamada ''Ela tem fogo no rabo''.
Será arte tudo que eu disser que é arte. Então, se ainda não ficou claro, o Videota diz: essas paródias são arte.