“Tem vida mais barata, mas não presta, não”
Ricardo Calil
''Não existe nobreza na miséria. Eu fui um homem pobre e eu fui um homem rico. E escolho 'rico' toda porra de vez''. Esta é uma das muitas frases provocativas de Jordan Belfort (Leonardo Di Caprio) no brilhante e subestimado ''O Lobo de Wall Street'', de Martin Scorsese. Entre os muitos símbolos de status amealhados pelo corretor de ações (o filme baseia-se na vida real), está um iate de 50 metros, estendido na parte traseira para caber um helicóptero – que vira em um tempestade a caminho de Mônaco.
Não dá para não lembrar de Belfort – e de sua apologia à riqueza – ao ver o vídeo do cartorário goiano José Augusto Alcântara em uma iate de 12 metros em Saint Tropez (França). Em uma hidromassagem, ele diz uma frase que deixaria Belfort orgulhoso: ''Marquinho, tem vida mais barata, mas não presta, não!''
Semelhantes na defesa da ostentação, o filme de Scorsese e o viral com Alcântara fazem pensar nas diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil. Belfort era um capitalista selvagem, um ''self made man'' que fez fortuna instantânea tapeando os investidores. Já Alcântara, a julgar pela profissão, é um patrimonialista clássico, um capitão hereditário que herdou uma polpuda fonte de renda dos antepassados.
Belfort passou três anos na cadeira, pena reduzida por dedar seus colegas. Alcântara provavelmente terá suas atividades regulamentadas pela PEC dos Cartórios que está sendo analisada pela Câmara e que oficializa, sem concurso, quem já mantém um. Nosso Jordan Belfort pode ter um iate menor, mas é ainda mais esperto.