O Videota

Uma missão espacial comandada pelo marketing
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Ricardo Calil

Muita gente boa anda boladona porque o anúncio da Nasa de que existe água em Marte foi feito na semana de lançamento do blockbuster ''The Martian'' – filme de Ridley Scott que, entre outras coisas, mostra o astronauta interpretado por Matt Damon procurando (sem sucesso) água em Marte.

Scott já declarou que sabia da descoberta da Nasa há dois meses, porque estava em contato direto com a agência espacial por conta da produção. Ou seja, a Nasa realmente escolheu o momento certo de fazer o anúncio – e, coincidência!, calhou de ser três dias antes da estreia do filme.

Bom negócio para a Nasa, que precisa chamar atenção a seu trabalho para continuar recebendo o dinheiro dos contribuintes. Bom negócio para o estúdio que produziu o filme, que ganhou publicidade gratuita bem na época da estreia (eles podem ter pago a Nasa, mas não os jornais e sites que reproduziram a notícia).

Claro, a produção lançou rapidinho um vídeo na internet capitalizando a curiosa simultaneidade de eventos. Nunca foi tão fácil provar que uma ''teoria conspiratória'' era verdade, e não conspiração (para efeito de comparação, a tese de que Stanley Kubrick dirigiu uma falsa chegada à Lua vai completar 50 anos já já).

Isto posto, o Videota está boladão com outra ''coincidência'': um dia antes do anúncio de que existe água em Marte a Adobe colocou no ar um vídeo genial imaginando como seria uma missão espacial comandada por publicitários.

Na hora da contagem regressiva, o cliente liga para a torre de controle pedindo alterações na ''campanha'': um logo maior no foguete, uma troca de cor, uma hashtag. E a melhor: o cliente decidiu que Marte não é mais tendência, então ele muda o destino para Plutão.

Ou seja, o comercial da Adobe imagina um mundo em que o marketing dominaria até a Nasa – uma realidade que se concretizou um dia após a piada. Será que eles também sabiam antes que a Nasa iria fazer propaganda do ''The Martian''? Ou, nesse caso, foi mesmo uma coincidência? Essa teoria conspiratória vai ser bem mais difícil de desvendar.


“Que Horas Ela Volta?” à “Central do Brasil”
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Ricardo Calil

que horas ela voltacentralA essa altura do campeonato, quase tudo já foi dito sobre ''Que Horas Ela Volta?''. Mas, posso estar enganado, há um aspecto acessório do filme que passou despercebido até aqui: a incrível semelhança entre o pôster o filme dirigido por Anna Muylaert e o de ''Central do Brasil'' (1998).

A ficha caiu quando o Videota viu uma paródia ao cartaz de ''Que Horas Ela Volta?'' (e você sabe que um filme virou um fenômeno cultural quando ele passa a ser parodiado), com uma imagem de Aloísio Mercadante deitado no colo da presidente Dilma no brilhante noticiário satírico do ''piauí Herald''.

Aí o Videota pensou: ''Ué, se eles querem parodiar 'Que Horas Ela Volta?', por que usaram o cartaz do 'Central do Brasil'?'' E, ao dar aquele Google básico, ele entendeu que seus cartazes são incrivelmente parecidos.

O parentesco entre cartazes remete a uma segunda semelhança: com abordagens e estilos muito diferentes, os dois filmes tratam de relações maternais não-biológicas, construídas pelas circunstâncias ou socialmente. No de Walter Salles, o personagem de Fernanda Montenegro ''adota'' a contragosto um menino que perdeu a mãe e busca o pai. No de Anna Muylaert, a empregada interpretada por Regina Casé vira a segunda mãe do filho da patroa. Em um país (e um cinema) em que a falta do pai é dada como certa, o drama surge da ausência da mãe e de sua substituição.

Há ainda uma terceira semelhança entre os filmes, mas esta dada mais pelo olhar externo sobre eles. Tanto ''Central do Brasil'' quanto ''Que Horas Ela Volta?'' foram apontados como obras-símbolo de seu tempo político: o primeiro, do governo FHC; o segundo, da era Lula. Não quero me estender sobre esse aspecto questionável. Mas é curioso notar que, de acordo com o olhar, os filmes foram elogiados ou criticados ora por refletir nossas contradições sociais, ora por diluí-las.

Por fim, há uma quarta semelhança na consagração internacional dos dois filmes, algo raro para dramas intimistas brasileiros (''Cidade de Deus'', ''Tropa de Elite'' e mesmo ''O Som ao Redor'', de formas muito distintas, eram paineis sociais). Os paralelos podem ganhar mais um episódio se ''Que Horas Ela Volta?'' for um dos finalistas ao Oscar de melhor filme estrangeiro – algo que não acontece com uma produção brasileira desde… ''Central do Brasil''.


O Brasil virou um filme de zumbis
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Ricardo Calil

Os vídeos amadores do tumulto deste final de semana em Copacabana são confusos: há um corre-corre generalizado, ônibus sendo parados, vidros sendo quebrados, passageiros pulando pela janela, um homem apanhando de um grupo de fortões. As imagens de celular só fazem sentido, nesse caso, quando acompanhadas das palavras do noticiário: houve arrastões nas ruas do bairro, a polícia não interferiu com a desculpa de uma decisão judicial, um grupo de justiceiros formado no Whatsapp parou um ônibus para linchar um suposto ladrão, os passageiros tentaram escapar não se sabe se dos linchadores ou dos assaltantes.

À primeira vista, as cenas lembram o filme ''Fúria'' (1936), de Fritz Lang – talvez por influência de Inácio Araujo, mestre da crítica que sempre o cita como uma radiografia da cultura do linchamento, da qual o Brasil é o infeliz e inconteste campeão mundial. No filme, Spencer Tracy interpreta um homem inocente confundido com um raptor de crianças que é preso e atacado por uma multidão furiosa.

Mas talvez um drama social como ''Fúria'' seja uma referência suave demais para o tumulto em Copacabana. Provavelmente já estamos mais próximos de um filme de zumbis/luta de classes como ''Terra dos Mortos'' (2005), de George Romero. Nele, os mortos-vivos controlaram quase todo o planeta, os humanos sobreviventes moram em uma cidade decadente cercada por muros para impedir a invasão dos zumbis, e os mais ricos vivem isolados em prédios luxuosos que parecem um shopping, tentando levar uma vida ''normal''. Há ainda um grupo de mercenários fortemente armados que enfrenta os zumbis para conseguir suprimentos para os mais ricos ou para vendê-los no mercado negro. O problema é que os mortos-vivos começam a ficar mais inteligentes, a se organizar como um grupo e a ameaçar a já frágil ordem social.

Não é preciso se esforçar muito para entender quem são os zumbis, os mercenários e os privilegiados no episódio de Copacabana. Nem para compreender a crítica social de Romero – na qual os vivos estão mais mortos do que os mortos-vivos.


Carlos Manga era bom até quando era mau
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Ricardo Calil

No audiovisual brasileiro, nenhum outro diretor conseguiu brilhar com a mesma intensidade no cinema e na TV como Carlos Manga – que morreu ontem no Rio de Janeiro aos 87 anos.

No cinema, ele foi um dos principais diretores da chanchada – ao lado de José Carlos Burle, Watson Macedo e Moacyr Fenelon.

Cinéfilo formado na escola hollywoodiana, Manga trouxe um nível de profissionalismo e de cuidado artesanal até então inédito para um gênero que, grosso modo, era feito de forma amadora. Melhor: conseguiu fazer isso sem engessar o talento dos comediantes.

Como disse o ator Paulo José em depoimento sobre Manga, ''para fazer paródia de cinema é preciso saber fazer cinema''. Manga sabia.

Isso fica evidente em filmes como ''Nem Sansão Nem Dalila'' (1953), ''Matar ou Correr'', ''Este Milhão É Meu'' (1958) e ''O Homem do Sputinik'' (1959), três grandes momentos da chanchada dirigidos por Manga e estrelados por Oscarito – uma das melhores duplas de diretor/ator da história do cinema brasileiro.

No total, foram 32 longas-metragens dirigidos por Manga, 21 para a Atlântida (principal produtora da chanchada), 13 com Oscarito.

Se as globochanchadas – as comédias de costumes produzidas pela Globo Filmes nos anos recentes – contassem com uns dois ou três Mangas, a qualidade do cinema comercial brasileiro subiria muito, pode crer.

Na televisão, Manga foi igualmente importante. Foi levado para o novo meio por seu amigo Chico Anysio nos anos 60 e começou dirigido o ''Chico Anysio Show'' na TV Rio. Para a Record, comandou dois programas musicais que marcaram a história: ''Jovem Guarda'', o programa que aglutinou o movimento e bombou a carreira de Roberto Carlos, e o ''Show do Dia 7''.

Na Globo, assinou, entre muitos outros trabalhos, as minisséries ''Agosto'', ''Memorial de Maria Moura'' e ''Engraçadinha'' – dando ares de cinema ao padrão de qualidade global.

manga tarcisioPara saber mais sobre a trajetória de Manga, o livro fundamental é ''Quanto Mais Cinema Melhor'', de Sérgio Cabral. Na biografia, Chico Anysio diz que, além de grande diretor, Manga foi ''o maior ator brasileiro''. Isso porque, antes das filmagens, ele mostrava exatamente como gostaria que o ator fizesse a cena – fosse uma piada de Oscarito ou uma briga com Tarcísio Meira (como mostra a foto dos bastidores do filme ''O Marginal'').

Para não dizer que falei apenas de flores, Carlos Manga teve ao menos um mau momento na TV: ''Quem Tem Medo da Verdade?'', programa criado pela Record em 1968 para tentar recuperar a audiência perdido com a crise dos programas musicais. Nele, os famosos da época eram ''julgados'' em um tribunal composto por outras pessoas célebres. Foi, possivelmente, o embrião do sensacionalismo na TV brasileira.

Mas, apesar de lamentável, o programa rendeu ao menos um momento genial para a história da TV brasileira (que você vê no vídeo acima): Silvio Santos defendendo Roberto Carlos da ''acusação'' de afeminar a juventude brasileira. Ou seja: Manga era bom até quando era mau.


Abençoado seja o vosso cuspe
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Ricardo Calil

Pastores evangélicos não se tornaram protagonistas apenas na política brasileira. Eles viraram também estrelas de virais que competem entre si na categoria ''teatro do absurdo''. Entre os concorrentes mais fortes, há o pastor Bope dando tiro no capeta, o fiel que recebe o Xangô das Pedreiras e uma pomba-gira e depois canta na língua dos anjos e, o meu preferido até aqui, o fiel dedo duro que conta que cheirava pó e fazia orgias com o pastor Formigão. Mas nesta semana apareceu um candidato imbatível: o pastor que cospe na boca do fiel para curá-lo de uma doença. Já ganhou.


“Fantástico” reinventa “Que Horas Ela Volta?”
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Ricardo Calil

''Que Horas Ela Volta?'' é, entre outras coisas, uma reflexão crítica sobre as contradições sociais brasileiras centrada nas relações entre uma família de classe alta de São Paulo, sua empregada doméstica e a filha desta (que chega do Recife e fica morando um tempo na casa dos patrões).

O filme de Anna Muylaert – que vem fazendo merecido sucesso mundo afora e foi escolhido como candidato brasileiro ao Oscar – revela o quanto ainda há de ''Casa Grande e Senzala'' nessas relações e o quanto o Brasil se libertou das heranças escravagistas nos últimos anos.

Pois o ''Fantástico'', fazendo jus a seu nome, conseguiu transformar ''Que Horas Ela Volta?'' em uma história de amor entre patrões e empregadas – ao colocá-lo lado a lado com duas histórias reais ''edificantes'' que versam sobre o mesmo tema.

Reportagem exibida neste domingo pelo programa da TV Globo selecionou falas ''neutras'' de Muylaert e das atrizes Regina Casé e Camila Márdila, anulou o olhar crítico sobre as desigualdades sociais presente no filme e concluiu em tom fofo/paternalista: ''A gente não está falando só de patrões e empregadas. A gente está falando de pessoas, de respeito, carinho, amizade, amor e nada disso se escreve na carteira de trabalho.''

A Globo Filmes, braço cinematográfico da Rede Globo, é coprodutora de ''Que Horas Ela Volta?''. Isso significa que a reportagem do ''Fantástico'' é um curioso caso em que se fez o marketing de um filme afirmando o contrário do que ele defende.

Não se via nada parecido desde que a Globo transformou em elogios as críticas do filme ''Tim Maia'' a Roberto Carlos.

Em entrevista ao site da Globo Filmes, Muylaert deixa claro o que o filme diz sutilmente:

''O filme retrata a diferença social entre os personagens e a quebra de regras sociais pré-estabelecidas. Como você avalia essa relação patrão x empregadas no Brasil?

Acho que a PEC das empregadas deu um grande passo no sentido da profissionalização da doméstica, mas acho que ainda falta bastante para a sociedade brasileira abandonar seus arraigados hábitos coloniais.

A PEC influenciou na construção do filme?

Eu escrevi este roteiro pensando em falar das regras de convivência sociais no âmbito doméstico. Essas regras separatistas, nós sabemos, não são faladas, mas estão aí. Quando eu criei a Jéssica tão segura de si, não estava pensando em política, mas em fugir de um clichê dramatúrgico da coitadinha da filha da empregada. Mas, quando o filme ficou pronto, todos reconheceram que ele estava falando de um Brasil pós-Lula. E eu concordei. Uma personagem como a Jéssica não seria verossímil antes de seu governo. Acho que, entre erros e acertos, houve uma melhora da autoestima do povo brasileiro. E a PEC das empregadas, sem dúvida, tem a ver com o final do filme. Acho que foi um grande passo para tirar o estigma do escravagismo e tornar a empregada doméstica uma profissional como qualquer outra.''

Ou seja, quem for ao cinema assistir a ''Que Horas Ela Volta?'' esperando encontrar uma história de amor entre patrões e empregados vai se sentir tão ''satisfeito'' quanto os espectadores que foram ver ''Praia do Futuro'' para reencontrar a macheza do Capitão Nascimento.


A anatomia de um crime da PM paulista
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Ricardo Calil

Se eles tivessem visto algum filme noir – seja uma obra-prima como ''Pacto de Sangue'' (1944), de Billy Wilder, ou um clássico moderno como ''Fargo'' (1996) -, talvez tivessem pensado duas vezes. Porque, no cinema, forjar um assassinato nunca dá certo, os culpados são descobertos no final e, como você sabe, o crime não compensa.

Mas os PMs que mataram Paulo Henrique Porto Oliveira a sangue frio e depois forjaram um tiroteio para mascarar a execução – como mostra o estarrecedor vídeo acima trazido à tona pelo repórter André Caramante e publicado pela Ponte Jornalismo – não se educaram nas salas de cinema, mas nas ruas de São Paulo.

Na realidade de certa PM paulista, forjar um assassinato pode dar certo, culpados nem sempre são descobertos, e o crime às vezes compensa. O caso do vídeo acima é uma exceção. Porque, nesse roteiro, havia uma câmera de segurança, um grande repórter investigativo e uma instituição jornalística corajosa.

Os PMs Tyson Oliveira Bastante e Silvano Clayton dos Reis, que assumiram ter atirado contra Paulo Henrique, e outros três que deram cobertura aos dois estão presos.

Na página da Ponte Jornalismo no YouTube, Caramante faz um impressionante – e entristecedor – passo a passo da execução (que pode ser acompanhado pelo timer em preto do vídeo).

''14:13:58 – Paulo é algemado pelo primeiro PM que chega perto dele.

14:15:30 – O mesmo PM que algemou Paulo se abaixa e o libera das algemas.

14:18:33 – Paulo é baleado duas vezes, no peito, e começa a se debater.

14:18:36 – PM que ajuda atirar em Paulo corre até carro da polícia, abre a porta traseira esquerda, pega uma pistola, coloca o carregador, abre a porta dianteira esquerda, fala algo no rádio e volta correndo até o corpo de Paulo, onde a arma é colocada.''

Raras vezes a metodologia de alguns PMs foi exposta e descrita com tamanho didatismo. Para citar outro filme clássico, é a anatomia de um crime. Parece cinema. Mas, infelizmente, é a realidade de São Paulo.


Os gorilas também amam (os celulares)
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Ricardo Calil

Você já teve a sensação de que sua timeline no Facebook está dominada por gorilas? A julgar pelo vídeo acima, pode ser verdade.

Nele, o gorila Jelani, do Zoológico de Louisville (Kentucky, EUA), fica vidrado nas fotos de outros gorilas mostradas em um iPhone por um frequentador.

No perfil de Jelani na página do Facebook do zoológico, está escrito que o gorila ''é um indivíduo sossegado que gosta de ver fotos e vídeos no celular'' – descrição que caberia a grande parte dos amigos do Videota, com a exceção daqueles que não são tão sossegados.

gorilaEm um post sobre o vídeo acima, o zoológico diz que a experiência é enriquecedora para Jelani. Antes de protestarmos pelos direitos dos gorilas, importante dizer que o Zoológico de Louisville é um santuário de animais respeitado.

De qualquer forma, o viral deixou o Videota triste. Só não sei se pelo gorila enjaulado ou pela humanidade viciada em celulares. Daniel Alves estava certo naquela campanha de marketing: somos todos macacos mesmo.

De agora em diante, quando eu trombar com um post no Facebook de uma pessoa querida dizendo alguma atrocidade ou defendendo algum tipo de violência, vou tentar ficar tranquilo: pode ser um perfil fake administrado por um gorila.


A cinegrafista húngara e a banalidade do mal
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Ricardo Calil

No livro ''Eichmann em Jerusalém'' (1963), a filósofa alemã Hannah Arendt desenvolve o conceito da ''banalidade do mal''. Ao escrever sobre o julgamento de Adolph Eichmann, o homem que organizou a logística dos campos de concentração e do extermínio de judeus na Alemanha nazista, Arendt diz que seu personagem não agiu por antissemitismo ou por um caráter doentio, mas como um burocrata que cumpria ordens e queria ascender na carreira. O mal, segundo ela, não é da natureza, nem da metafísica: é político e histórico, produzido por homens e se manifesta onde encontra espaço institucional para isso.

O vídeo da cinegrafista húngara László Petra agredindo refugiados nos faz lembrar da ''banalidade do mal''. Não porque seus gestos são banais: uma rasteira num refugiado com uma criança aqui, uma canelada numa refugiada acolá. Mas porque eles são repletos de contexto histórico e significado político. Petra não é a doença, ela é o sintoma de uma doença que acomete o mundo neste exato instante.

Seria um erro acreditar que as agressões da cinegrafista são a manifestação de um mal ''puro'' – atos de um psicopata de filme de terror ou de uma vilã de contos de fada. Como Eichmann, ela agiu para agradar o patrão – no caso, a emissora N1 TV, ligada ao partido de extrema-direita Jobbik, que defende ideias neonazistas – e possivelmente subir na carreira. Talvez isso acontecesse se a cena não tivesse corrido o mundo e gerado enorme repercussão negativa. Mas, como a internet de vez em quando ajuda, o chute saiu pela culatra – e Petra acabou sendo demitida, possivelmente a contragosto da chefia.

A cineasta alemã Leni Riefenstahl fez dois filmes de propaganda nazista esteticamente poderosos: ''O Triunfo da Vontade'' (trecho acima) e ''Olympia''. Ela morreu, aos 101 de idade, jurando de pés juntos que nunca foi nazista, que era ''politicamente ingênua'' e queria apenas registrar a beleza, nem que ela surgisse em um comício de Hitler. A banalidade do mal não faz distinção de talento: às vezes acomete uma artista original, como Leni Riefenstahl, às vezes uma burocrata da câmera, como László Petra.


Um prodígio genuinamente brasileiro
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Ricardo Calil

Os vídeos de crianças-prodígio são quase um subgênero dos virais. Essa é uma categoria dominada até aqui por asiáticos. Quase todo dia surge na timeline do Videota um minúsculo e adorável japonês ou chinês fazendo algum malabarismo inimaginável para sua idade. Americanos também vão bem, em geral com vídeos de cantores ou dançarinos precoces.

Agora o Brasil também tem um prodígio na internet para chamar de seu: Bento, 6 anos, sobrinho do genial bandolinista Hamilton de Holanda e do craque do violão Fernando César. Eles aparecem neste vídeo interpretando o lindo choro ''Machucando'', de Adalberto de Souza.

Postado no Facebook por Hamilton (que também foi um prodígio e começou a tocar aos 5 anos), o vídeo já teve mais de 3 milhões de visualizações e 60 mil compartilhamentos. Um viral e um prodígio genuinamente brasileiros, que nos fazem ter esperança no futuro.