Conheça a TV mais entediante do mundo
Ricardo Calil
A comunicação no mundo moderno precisa ser rápida, não é? Por isso, o sucesso dos GIFs. Dos tweets de 140 caracteres. Dos vídeos curtíssimos do Vine. Das fotos que desaparecem em segundos no Snapchat. Meio antiquíssimo, com mais de meio século de idade, a TV tenta correr atrás do prejuízo, criando programas cada vez mais velozes e mais furiosos.
Mas há uma inacreditável exceção: o canal público norueguês NRK – uma emissora onde a lerdeza é um trunfo, onde o tédio é motivo de orgulho. Ali eles criaram o conceito de ''slow TV'' – que, como no ''slow food'', defende que as melhores experiências, sejam televisivas ou gastronômicas, exigem tempo. Muito tempo.
Na palestra do TED do vídeo acima, o produtor Thomas Hellum explica o conceito de ''slow TV'' e conta um pouco de sua história na NRK. Tudo começou em 2009, ano do centenário da ferrovia Bergen. Para comemorar, os produtores tiveram a ideia de mostrar o trajeto completo, sete horas de paisagens sem cortes. Estranhamente, foi um sucesso: 1,2 milhão de espectadores (de um total de 5 milhões no país).
O passo seguinte foi mais ousado: a cobertura ao vivo, ininterrupta, de um cruzeiro de 3 mil quilômetros pelo litoral norueguês, que durou cinco dias e meio. O sucesso foi estrondoso: 3,2 milhões de espectadores, muito barulho nas redes sociais e milhares de pessoas que apareciam na costa para acenar ao navio e aparecer ao vivo na TV (incluindo a rainha da Noruega). O programa ficou marcado pela imagem de uma vaca caminhando pela costa ao longo de dez minutos.
Desde então, a NRK se especializou em programas de ''slow TV'' e já transmitiu uma pescaria de 18 horas, pessoas cortando lenha para depois queimá-la por oito horas em uma lareira, outras pessoas tosquiando ovelhas para depois fazer blusas de lã ao longo de uma noite – sempre com boas audiências. ''Quando as pessoas dizem 'Ah, você não pode pôr isso na TV', nós achamos que é uma boa ideia para a TV lenta'', diz Hellum.
Na palestra, ele tenta explicar o estranho sucesso da NRK: ''Os espectadores têm a impressão de estar lá de verdade, estar no trem de verdade, no barco, e tricotando junto com outros, e a razão pela qual acho que estão fazendo isso é porque nós não cortamos o material. Assim, você deixa os espectadores criarem as histórias por si''.