A anatomia de um crime da PM paulista
Ricardo Calil
Se eles tivessem visto algum filme noir – seja uma obra-prima como ''Pacto de Sangue'' (1944), de Billy Wilder, ou um clássico moderno como ''Fargo'' (1996) -, talvez tivessem pensado duas vezes. Porque, no cinema, forjar um assassinato nunca dá certo, os culpados são descobertos no final e, como você sabe, o crime não compensa.
Mas os PMs que mataram Paulo Henrique Porto Oliveira a sangue frio e depois forjaram um tiroteio para mascarar a execução – como mostra o estarrecedor vídeo acima trazido à tona pelo repórter André Caramante e publicado pela Ponte Jornalismo – não se educaram nas salas de cinema, mas nas ruas de São Paulo.
Na realidade de certa PM paulista, forjar um assassinato pode dar certo, culpados nem sempre são descobertos, e o crime às vezes compensa. O caso do vídeo acima é uma exceção. Porque, nesse roteiro, havia uma câmera de segurança, um grande repórter investigativo e uma instituição jornalística corajosa.
Os PMs Tyson Oliveira Bastante e Silvano Clayton dos Reis, que assumiram ter atirado contra Paulo Henrique, e outros três que deram cobertura aos dois estão presos.
Na página da Ponte Jornalismo no YouTube, Caramante faz um impressionante – e entristecedor – passo a passo da execução (que pode ser acompanhado pelo timer em preto do vídeo).
''14:13:58 – Paulo é algemado pelo primeiro PM que chega perto dele.
14:15:30 – O mesmo PM que algemou Paulo se abaixa e o libera das algemas.
14:18:33 – Paulo é baleado duas vezes, no peito, e começa a se debater.
14:18:36 – PM que ajuda atirar em Paulo corre até carro da polícia, abre a porta traseira esquerda, pega uma pistola, coloca o carregador, abre a porta dianteira esquerda, fala algo no rádio e volta correndo até o corpo de Paulo, onde a arma é colocada.''
Raras vezes a metodologia de alguns PMs foi exposta e descrita com tamanho didatismo. Para citar outro filme clássico, é a anatomia de um crime. Parece cinema. Mas, infelizmente, é a realidade de São Paulo.