O Videota

“Faça a Coisa Certa” ganha remake hipster
Comentários Comente

Ricardo Calil

Depois de ''Karatê Kid'', ''A Fantástica Fábrica de Chocolate'' e ''Carrie, a Estranha'', outro grande clássico do cinema americano vai ganhar um remake: ''Faça a Coisa Certa'' (1989). O trailer acima foi apresentado em primeira mão no programa ''Jimmy Kimmel Live''.

O novo filme se passa no Brooklyn dos dias de hoje e reflete as transformações por que passou a região nova-iorquina nos últimos 26 anos. No lugar das tensões raciais do filme do Spike Lee, o remake se concentrará em questões mais contemporâneas, como a preservação das águas, pizzas sem glúten e o tamanho certo para barbas. Em vez de ''Do The Right Thing'', o remake se chamará ''Do The White Thing''.

O trailer, claro, é uma paródia. Mas essa foi caprichada: chamaram atores de peso como Billy Kudrup e Zooey Deschanel, imitaram o estilo visual do filme original e capricharam no sarro dos moradores brancos que invadiram o Brooklyn. É uma pena que o filme nunca sairá do papel – porque o trailer deixou O Videota com vontade de assisti-lo.


Como É Criminoso o Meu Patrão
Comentários Comente

Ricardo Calil

O assédio sexual de patrões a empregadas, essa tenebrosa tradição nacional, não foi ignorado pelo cinema brasileiro. Mas também não foi encarado de frente, pelo que ele realmente é. Na pornochanchada, ele era visto como uma piada erótica – como mostra o título do filme ''Como é Boa a Nossa Empregada'' (1973).

Em ''Casa Grande'' (2014), de Fellipe Barbosa, no qual um adolescente se inicia sexualmente com a empregada mais velha, o assédio é visto como parte natural do romance de formação do garoto, como um jogo de sedução entre iguais – e não como um exercício de poder.

E mesmo em ''Que Horas Ela Volta?'', que tem um olhar mais crítico para essas relações, os avanços do patrão (Lourenço Mutarelli) sobre a filha da empregada (Camila Márdila) são atenuadas pelo caráter meio parvo/meio romântico dado ao personagem masculino. Afinal de contas, ele é um banana ou é um assediador? Entre as muitas pautas criadas em torno do filme de Anna Muylaert, esta não foi colocada.

Por mais diferentes que sejam os olhares desses filmes, eles têm em comum o fato de serem dirigidos pelo lado economicamente privilegiado da relação patrão-empregado.

O vídeo acima – que a empregada Priscila do Nascimento Xavier fez para registrar e denunciar o abuso sexual de seu patrão no Recife – inverte essa equação. Pode não ser esteticamente refinado, mas é tão relevante quanto os filmes citados acima, porque traz o olhar da vítima e porque dá ao assédio o nome que ele deveria ter. Seu nome poderia ser: ''Como É Criminoso o Meu Patrão''.


De Volta para o Futuro x Realidade de 2015
Comentários 1

Ricardo Calil

Nesta quarta-feira, dia 21 de outubro de 2015, Marty McFly chega, enfim, ao futuro. Uma época em que skates voam, roupas se secam no corpo, cadarços são amarrados automaticamente, coleiras eletrônicas levam cachorros para passear. Pelo menos é assim que acontece em ''De Volta para o Futuro 2''.

Infelizmente, esqueceram de avisar o presente. E o fato é que a comparação do filme de 1989 com a realidade de 2015 é absolutamente frustrante, como se vê no vídeo acima.

Ninguém pode acusar as pessoas de não tentar. Ao menos no caso do skate voador, as tentativas foram muitas. No ano passado, a lenda do skate Tony Hawk supostamente voou em um hoverboard da Hendo. Neste ano, A Lexus mostrou seu modelo. E, alguns dias atrás, um canadense maluco lançou uma traquitana voadora que nada lembra um skate. Nada que eu ou você possa comprar na loja da esquina, como o personagem de Michael J. Fox no filme de Robert Zemeckis.

Até agora, a melhor versão do hoverboard é uma piada. A piada do vídeo abaixo.


É biscoito ou bolacha? O funk tem a resposta
Comentários Comente

Ricardo Calil

É uma das mais importantes e longevas dúvidas da língua portuguesa – quiçá, um dos grandes enigmas da humanidade. Afinal de contas, é biscoito ou bolacha?

Finalmente alguém apareceu com uma resposta satisfatória. Essa alguém é Jout Jout, youtuber de Niterói, conhecida pelo viral ''Não Tira o Batom Vermelho''.

E a maneira que Jout Jout encontrou para responder a velha questão foi um funk – gênero com o qual tem enorme intimidade, como já demonstrado no clássico ''Presente de Aniversário''.

No novo vídeo, enquanto mostra toda a malemolência da mulher fluminense, Jout Jout não se esquiva de cravar uma resposta categórica.

Os mais céticos poderão afirmar que sua visão foi profundamente influenciada por seu Estado de origem. Afinal, o pessoal do Rio fala ''bixcoito'' porque bolacha não dá pra falar chiando. Pura maledicência de paulista.


Dilma homenageia o Dollynho
Comentários 1

Ricardo Calil

Era para ser uma citação ao ''E.T. – O Extraterrestre''. Nesta animação governamental do Dia das Crianças, três personagens que lembram Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o ministro da Casa Civil Jacques Wagner sobrevoam de bicicleta uma ponte (do impeachment?) explodida por mãos misteriosas (de Eduardo Cunha?) – um referência à mais famosa cena do filme de Steven Spielberg.

Mas o resultado parece antes uma homenagem ao Dollynho, mascote da popular marca de refrigerantes e protagonista de sofríveis desenhos animados.

É difícil dizer o aspecto mais bizarro da animação oficial: a banalidade da metáfora, a inadequação do tema (Dilma pedalando em meio à discussão sobre pedaladas fiscais e impeachment), o equívoco do casting (o que Lula e Jacques Wagner estariam fazendo ali neste momento?), o céu infernal, a trilha torturante, a baixa qualidade técnica…

Deu saudades do discurso de Dilma sobre o cachorro oculto, feito no Dia das Crianças de dois anos atrás. Quando a crise passar – e esperamos que ela passará da maneira menos dolorosa possível -, a comunicação do governo Dilma precisará ser objeto de estudos: como pode atrapalhar tanto algo que precisa tanto de ajuda?

Isto posto, e como este blog é republicano e apartidário, é preciso dizer que a animação nunca foi o forte da política nacional – como provam o jogo da vida do Aécio e o Kassabinho, entre outros.


Porquinhos-da-índia recriam “Dama e Vagabundo”
Comentários Comente

Ricardo Calil

No lugar de cachorros, porquinhos-da-índia. Em vez de um espaguete, uma folha. E, pronto, está recriada a mais famosa cena de ''A Dama e o Vagabundo'' (1955), clássico da Disney. A vida imita a arte também no mundo animal. Mas o romance fica no meio do caminho: o que era um beijo involuntário no cinema vira uma disputa por comida na realidade. Uma disputa fofa, é verdade, mas ainda assim uma disputa.

Com mais esse remake, a cena de ''A Dama e o Vagabundo'' se tornou extraoficialmente a mais copiada da história do cinema. Ela já foi recriada por seres humanos com uma banana, tartarugas com um pepino e lagartos com vísceras de rato.

Mas os campeões de remake, bem à frente dos humanos, são mesmo os porquinhos-da-índia – como você pode comprovar nesse vídeo aqui, nesse outro ali e naquele outro acolá.


“Senhora” ganha remix em ritmo de blues
Comentários 3

Ricardo Calil

Em sua origem, o blues foi, entre outras coisas, uma música de protesto contra a escravidão, feita por gente que trabalhava sem receber. Na hora de escolher um ritmo para satirizar gente que recebe sem trabalhar, o blues surgiu como uma opção natural.

E, assim, nasceu ''Senhora (Remix)'', um blues em ''homenagem'' à servidora da Assembleia Legislativa de Goiás que fugiu da repórter da TV Anhanguera ao ser flagrada batendo o ponto e indo embora.

senhoraO vídeo é mais uma obra do canal Timbu Fun, que tem feito remixes inteligentes e musicalmente sofisticados a partir de cenas que viralizaram na internet brasileira (como você vê no making of da gravação de ''Senhora (Remix)''. A entrevistada-fugitiva, que já virou jogo para smartphone, era um prato cheio para o Timbu Fun.

O clássico do estúdio, tocado pela dupla Eliel Gatti Robles e Ricieri Nascimento em São Carlos (SP), continua sendo o remix da ''Saudação à Mandioca'', da presidente Dilma, em ritmo de reggae, que você vê aí abaixo. Mas o blues da ''Senhora'' vem logo atrás.


A felicidade é um cachorro que dança forró
Comentários Comente

Ricardo Calil

Quando um filme quer mostrar que um personagem está feliz, o que ele faz? A resposta é fácil: põe o cara pra dançar. Funciona 99% das vezes. Prova disso é a quantidade de virais que reúnem cenas de dança no cinema – como este abaixo, com cenas de 100 filmes ao som de ''Uptown Funk''.

Mas, apesar de tentar constantemente, o cinema ainda não conseguiu chegar a uma representação tão pura da alegria quanto este viral dos meninos brasileiros que dançam forró com um vira-lata. Felicidade é isso aí. O resto é ficção.


O Messias do jazz, da internet a Paraty
Comentários Comente

Ricardo Calil

Ele foi chamado pelo jornal ''The Guardian'' de ''o novo Messias do jazz''. Seu primeiro disco vai ser produzido pelo lendário Quincy Jones (o mesmo de ''Thriller'', de Michael Jackson). Ele abriu shows de Chick Corea e Herbie Hancock no Montreux Jazz Festival – e os dois gênios da música se tornaram fãs. Ele tem 21 anos.

O Videota teve o privilégio de assistir ao show do prodígio inglês Jacob Collier ontem em Paraty no excelente festival MIMO(que passa ainda por Rio, de 13 a 15 de novembro, e Olinda, de 20 a 22 de novembro).

jacobO moleque é uma mistura assombrosa de virtuosismo old school (sozinho no palco, ele cria intrincadas harmonias vocais e toca todos os instrumentos, piano acústico, teclados, contrabaixo, bateria etc etc.) e de máximo aproveitamento das novas tecnologias (ele vai mixando diferentes frases musicais de sua voz e de vários instrumento ao longo do show, em uma parafernália eletrônica desenvolvida em conjunto com o Massachusetts Institute of Technology, como conta a reportagem da ''Folha de S. Paulo'' sobre a abertura do MIMO).

Collier é mais um desses fenômenos que bombaram na internet antes de ganhar o mundo real. Primeiro com o vídeo de ''Don't You Worry About a Thing'', de Stevie Wonder. Depois, com músicas de George Gershwin (''Fascinating Rhythm''), Burt Bacharach (''Close To You'') e, mais recentemente, de Michael Jackson (''P.Y.T.'') – que talvez prenuncie como vai ser a parceria com Quincy Jones (ao Vírgula, o produtor disse que nunca conheceu um jovem músico com a capacidade de Collier)).

Os vídeos permitem entender melhor o processo e o brilhantismo de Collier. Mas não preparam o público para o show do moleque, quando ele faz tudo isso ao vivo, no calor da hora, improvisando em dezenas de instrumentos.


Celular torna-se arma contra abuso policial
Comentários Comente

Ricardo Calil

Com quem as vítimas da violência policial podem contar no Brasil? Com o Estado? Com a Justiça? Com a imprensa? Nos últimos tempos, talvez seu maior aliado seja um celular com câmera nas mãos de uma testemunha. Um aparelhinho que registra o abuso, que desmascara crimes forjados, que identifica culpados.

Foi assim no caso do vídeo acima, que mostra policiais do Rio de Janeiro colocando uma arma na mão de um adolescente morto e efetuando disparos para encenar um tiroteio que não existiu. Foi assim duas semanas atrás, com PMs de São Paulo sendo flagrados jogando um homem de um telhado.

Isso não torna essa guerra mais equilibrada: uma arma mata, uma câmera filma. Mas as imagens de celular ajudam a mudar a narrativa sobre a violência no Brasil, funcionando como contraponto ao discurso oficial (da polícia, dos programas policiais de TV) e obrigando Estado, Justiça e imprensa a acolher o olhar da vítima.